segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um outro olhar: Tião Santos

   Lixo extraordinário é de longe um dos melhores documentários produzidos na cinematografia anglo-brasileira. Sua temática, sem dúvida, trabalha com uma verdadeira quebra de paradigmas. Ficamos expostos a uma realidade que é muito mais comum do que imaginamos e, nos surpreendemos como o trabalho de algumas pessoas pode transformar todo o contexto que os rodeiam. Vik Muniz é um artista plástico que realiza um trabalho com material reciclável, e os transforma em obras de arte. É importante ressaltar a própria história do artista que, com a chegada aos Estados Unidos começou a ter contato com material, a principio, orgânico, em seu trabalho. 


      
      Enxergando uma possibilidade de transformação, o artista utilizou-se desses materiais para construção de imagens, finalizados em fotografias expressivas e que dialogam em diversos contextos. O trabalho de Vik Muniz com os materiais recicláveis parte da ideia do misto de arte com um projeto e identificar como a arte pode mudar pessoas; é uma espécie de experimento da própria condição humana: O que eu faço? Qual o benefício que isso trará para o "eu" e para os que me rodeiam? Qual o contexto em que estou inserido e como posso ultrapassar a barreira da transformação de tudo aquilo que me envolve?
  Observamos exatamente esse paradigma. Lixo extraordinário é um bom exemplo dessa quebra de paradigmas. A Sensibilidade e garra dos personagens retratados contextualizam muito bem com o Projeto Social Ocas, abordado, minuciosamente, nas próximas postagens. 
       A priori, identificaremos a condição de um personagem retratado no documentário. Tião Santos é presidente da associação de catadores do Jardim Gramacho e defende os principais interesses da comunidade envolvida no trabalho. Tião sempre acreditou na possibilidade desse tipo de atividade e traremos aqui um estudo acerca da transformação desse individuo com o trabalho de arte proposto pelo artista Vik Muniz.



   A ideia é realizar a coleta de materiais com um determinado grupo de catadores e construir, por meio do trabalho do artista, as obras da série "Retratos do Lixo". Mostrando-se interessado por estudos, livros e teorias, o retrato de Tião é inspirado em Jean-Paul Marat, médico intelectual e importante figura da Revolução Francesa, morto dentro de sua banheira. Podemos contextualizar tal inspiração com a própria condição de Tião Santos no que diz respeito a luta de Marat a favor do povo durante a Revolução Francesa. A obra "Marat, Sebastião Retratos do lixo" é a escolhida e leiloada em Londres por 28 mil libras (cerca de 100 mil reais).
     Ressaltamos a visão que o próprio Tião tinha de arte antes dessa transformação, o mesmo informa que não enxergava tudo aquilo como arte, porém, diante de toda a complexidade de criação e significação do que a arte pode proporcionar, enxerga agora todas as possibilidades de transformação das coisas e pessoas.



      A série de obras "Retratos do lixo" foi exposta no Museu de arte moderna do Rio de Janeiro em 2009 e desde então, os personagens colhem os frutos da realização desse trabalho. Tião Santos, conforme fora analisado é o principal representante de todo esse trabalho, da divulgação, presidência da ACAMJG ( Associação dos catadores do aterro Metropolitano do Jardim Gramacho) e representante do MNCR ( Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis) líder da luta para que a coleta seletiva seja realizada da maneira correta e que dessa forma, facilite o trabalho dos catadores de lixo, que na verdade não é de "lixo", mas sim de material reciclável.

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